Por entre as fileiras de assentos ocupados no outro lado da sala de espera, como se tivesse surgido do nada, ele veio e, com ar de determinação, daquelas que fazem a gente apertar os lábios um no outro, segurou firme o recosto do único assento vazio na fileira à minha frente com as duas mãos, como se fosse escalar uma montanha, e se ajoelhou finalmente sobre ele. Sem muito pensar, com seus lindos negros olhos, rodeou cuidadosamente o salão, dando a entender que, para ele, aquelas algumas dezenas de desconhecidos fossem uma enorme novidade. Vários segundos depois, provavelmente satisfeito com o que viu, seus óculos de aros grossos, elegantes, baixaram no rumo da moça, toda emperiquitada e esbanjando maquiagem, que estava sentada a duas vagas de mim. Com o queixo aninhado em uma das mãos, ela retribuiu-lhe o olhar, porém sisudo e rápido, o que o desencorajou e o fez retornar à pequena multidão. Um apito eletrônico e moderado saiu do painel perto do teto, e ela se levantou, ajustou vaidosamente a saia, depois a blusa, e começou a desfilar na direção do balcão de recepcionistas – momento ideal para que ele, apressadamente, empurrasse os óculos com a ponta de um dos dedos para o lugar certo e, então, pudesse, à vontade, submetê-la ao seu ansioso escrutínio, até que ela sumisse pelo corredor da esquerda.
Mais um apito veio do painel. Mesmo tendo decorado as letras e os números da minha senha, olhei para o papelzinho amarelo-claro em uma das mãos, só para me tranquilizar. Sim, eu sou do tipo de pessoas que precisam verificar duas ou mais vezes se realmente trancaram a porta, se realmente acionaram o alarme do carro, e outras coisinhas mais…
— Sossega, menino! – disse a mulher ao lado dele, falando pela primeira vez.
Ele a obedeceu. Descansou um dos braços sobre o ombro dela e carinhosamente encostou a cabeça em seu espesso e robusto braço.
— Senhor Antônio Guerra – uma moça com uniforme azul-escuro anunciou de modo a ser ouvida claramente por todos ali.
De lá do meio dos assentos à direita, em meio ao contínuo zunzum, um homem se levantou cuidadosamente e, cuidadosa e lentamente, começou a caminhar na direção da moça. Demorei pouquíssimos segundos para notar que, quase bem atrás dele, ia uma mulher de movimentos igualmente lentos, que, com certo esforço, apressou um dos passos a fim de emparelhar-se com ele. Assim que a assistente de recepção indicou-lhes a direção, ela, a mulher, ofereceu uma das mãos ao homem. Então, aí, toda a minha atenção ganhou um novo rumo.
Enquanto os observei caminhando, também na direção do corredor por onde a moça ostensivamente maquiada tinha desaparecido, sussurrei a palavra “amor” em pensamento, tema sobre o qual andei me perguntando muito, e a algumas outras pessoas, nas últimas semanas. Tentei adivinhar a idade deles. Embora não seja muito bom nessa questão, julguei que estavam transitando da casa dos setenta para a dos oitenta. E, com isso, comecei a pensar no tempo, no tempo em que eles já estavam juntos, na história toda e em todas as histórias que, provavelmente sem se desgrudarem um do outro, viveram. Rapidamente, dei-lhes filhos. Vi-os vendo-os crescer. Dei-lhes netos e possibilitei bisnetos. Conjeturei sobre as concessões feitas um ao outro e a quem quer que tenha feito parte da história deles até aquele dia. Suas despretensiosas roupas, asseadas, que denunciavam o fiel zelo da mulher, ambos de cabelos quase branquinhos, rugas doadas pelo tempo, um sendo acompanhante do outro em um atendimento público e certamente em qualquer lugar, de mãos dadas, até alcançarem aquele lento caminhar –, isso tudo me fez ver o que estava na cara dos dois: seguir adiante até que a separação inevitável acontecesse era o grande plano. Sabe o que entendi? Que o amor acabara de desfilar devagarzinho diante dos meus olhos em uma de suas mais elegantes versões.
O painel apitou de novo. Era a minha vez.