Antes de decidir escrever esta postagem, a frase que me veio à cabeça foi: “Deve ser muito triste ter consciência disso.”
Imediatamente, fiz outra sugestão às minhas palavras:
— Não seja idiota… – repreendi-me. — Deve ser? Não! É triste!
Passando em uma rua em que já tinha passado várias vezes, resolvi parar e conversar com ele, que todos os dias estava lá, fazendo belos trabalhos artísticos. E sabem de uma coisa? Incansavelmente!
Eu já tinha notado sua necessidade de muletas, o recurso extracorpóreo para auxiliar uma das funcionalidades de seu organismo, a vagarosidade de suas mãos, que, provavelmente, ficaram assim com o lento passar do tempo e o oportunismo de sua enfermidade, que, até minutos mais tarde, não sabia dizer qual era.
Entrei, falei “boa tarde”, e ele também. Elogiei seu trabalho, e ele agradeceu. Fiz algumas perguntas, e ele respondeu a todas.
Quando chegou a vez da pergunta que tanto queria fazer, tive dúvidas. Não sabia se ele reagiria com naturalidade ao assunto, se seria muita intromissão minha querer saber. Ela me veio à boca, mas titubeei. Então falei do tempo, do calor que fazia naquela tarde, fazendo passar a vez da pergunta.
Minutos mais tarde, quando o andamento do bate-papo pareceu dar permissão, perguntei-lhe, e ele me falou a respeito. Fiquei tocado…
— E qual é o tratamento para se ter a cura? – eu quis saber, esperando uma resposta otimista.
— Não tem – suas palavras saíram corajosas, conforme manuseava uma de suas ferramentas. — Daqui pra frente, é chegar ao fim. Só isso – concluiu ele.
Fiquei em silêncio, observando-o, artesão.
— Tem uns remédios só pra retardar a chegada…
— Mas há muito que viver ainda – insisti em que deveria ter mais esperança do que ele parecia possuir.
— Pra ser sincero, não tô fazendo muita questão disso, não – dessa vez, ele ergueu o olhar para mim. — Não é fácil. Já que tem de ser, que seja logo, lá pra junto dele – disse apontando um dos indicadores para cima. — E pronto…