Senhora bonita!

No metrô Anhangabaú, uma senhora caminhava, muito lentamente, na direção da saída. Tenho certeza que ela não tinha menos de oitenta anos.

As pessoas, apressadas, iam e vinham. E ela, com o olhar atento ao chão – olhando somente às vezes para frente –, parecia um ponto em câmera lenta, enquanto o mundo ao seu redor girava a todo vapor.

No entanto, para combater meu instintivo abalo de miseração (gostaria tanto de ter usado outra palavra, mas foi o que senti no momento em que a vi), suas sobrancelhas eram visivelmente bem remodeladas, e seu batom estava se exibindo discretamente. Suas roupas? Daquelas que já estiveram na moda em outros tempos, porém cuidadas e, até que vaidosamente, asseadas. Ah, quase me esqueci de mencionar. Seus cabelos, à altura dos ombros, que lembraram Sílvia Pfeifer por um instante, eram branquinhos como a neve.

— Olá. A senhora precisa de ajuda? – perguntei.

— Não. Tá tudo bem. Obrigada – respondeu erguendo o olhar para nós e, em seguida, olhando de volta para ver onde pisava.

— Mora aqui perto? – insisti em conversar, enquanto Silvana e eu andávamos ao seu lado, e o povo não parava de ir, nem de vir.

— Na Santa Cecília – ela me respondeu.

— E aonde a senhora tá indo? – falei sorrindo, esperando que ela não me chamasse de enxerido.

— À casa de uma amiga. Ela e eu vamos jogar baralho e tomar chá – informou-me com sua bela concordância verbal.

— Oh! É isso aí – falei contente por saber que ela estava indo se divertir. — Bons jogos e bom chá – terminei.

— Obrigada – disse-me sorrindo.

Voltamos a andar rápido, e ela ficou para trás.

Passamos pela catraca e saímos à multidão. Era aniversário da cidade.

Every Day

Todo dia é o começo

É o fim

É aniversário

É envelhecimento

É uma nova chance

É a última

É nascimento

É morte

É a ida

É a estada

É ontem

É hoje

Quem sabe o amanhã, every day

Não acredita?

Olha quem vem

Olha quem vai

Olha quem fica.

(Édi Ribeiro)