A história do meu nome

Meu primeiro nome é Edi, mas para me chamar, você precisa  dizer “Édi”. Entendeu? 😀

Quando nasci, minha mãe ia me dar o nome de “André”. Não teria sido legal ter o nome André Ribeiro? Teria! Mas uma prima dela (imagine-me, aqui, resmungando baixinho, chamando-a de infeliz) insistiu que não pusesse André, e sim Ed – por causa de haver, na época, um cantor da jovem guarda chamado Ed Carlos. Ela, a infeliz prima, contaminou minha mãe e outra pessoa da família. Então, há dois Ed Carlos. Aliás, Edi Carlos.

Quem me chama de “Édi” (ou Ed)? Somente as pessoas que me conhecem. As que não me conhecem me chamam de Edi, ou seja, de “Edí”. Isso mesmo, elas pronunciam O MEU NOME como se tivesse um acento no “i”.

Em atendimentos públicos, quando saem de uma porta com uma ficha na mão, vivo o suspense de como falarão meu nome, se for a minha vez. E quando é, falam alto: “Edí Carlos”. Raramente falam Ed, ou Édi. Isto quer dizer que raramente sinto-me confortável quando pronunciam meu nome. e eu corrijo a pessoa sugerindo a pronúncia correta.

Sempre tive vontade de mudá-lo. De duas, uma: pôr o acento no “e” para que se tornasse, DE UMA VEZ POR TODAS, paroxítono ou arrancar esse “i” intruso e desajeitado, embaraçador.

Recentemente, falei com um advogado – lembro-me que uma vez me instruíram a falar com um – e expliquei a situação. Ele me explicou muitas coisas. Disse-me que são importantes alguns critérios, e um deles é provar que o nome, no caso a pronúncia, me causa constrangimento; enquanto que algumas pessoas próximas não creem haver algo errado na grafia do nome a ponto de induzir outras a falar “edí”.

– Como você lê “pedi”? – escrevi a palavra e perguntei a uma amiga recentemente.

– Pédi. – ela me disse com segurança.

– Não! “Pédi” é P-E-D-E.

– É verdade! – ela concordou.

– O mesmo acontece com CEDI, DESCI, MEDI. Nenhuma dessas palavras é paroxítona. São todas oxítonas, e no meio está meu nome. – reforcei.

– Mas você precisa de pelo menos um motivo constrangedor para que consiga alterar a grafia. – acrescentou ela – Não é mesmo?

– Sim. – respondi.

– E qual é o motivo?

– Os motivos. – falei levantando o indicador esquerdo com quase absoluta autoridade – Um deles é que, no meio gay, a palavra “edí”, com acento no “i”, quer dizer “ânus”. – procurei soar moderado.

– Como assim? – ela franziu a testa.

– “Cu”. – quase exclamei – Os gays, quando se referem a ele, usam o termo “edí”.

– Ah! Mas eu não sabia disto. E acredito que a maioria das pessoas não sabe disso. – vi que ela não estava do meu lado, o que já me incomodou.

– Pode ser que você tenha razão, mas o mais importante é que EU sei que meu nome, quando mal pronunciado, significa “cu” e me lembro de “cu” toda vez! – rimos incontrolavelmente nesse momento. – E além disso, desse motivo, há muitas mulheres que se chamam “Edí” (oxítono), o que quer dizer que o nome é, principalmente, feminino. E se ele, com o sentido de “ânus”, não as embaraça – não sei, nunca falei com uma Edí pessoalmente – o problema, se “problema” for a palavra certa aqui, é só delas, e que fique só com elas, uai! O que me interessa é que, a mim, isso me incomoda, e demais.

– Hmm. Entendi.

– E mais: a intenção era que meu nome soasse paroxítono, e não oxítono. Que soasse exatamente como o do cantor da jovem guarda Ed Carlos.

Não que eu queira que meu nome seja de cantor. Esse Ed Carlos será lembrado somente por pessoas mais velhas – nem mais aparece na TV, está no esquecimento há muito tempo. Então, nem pensem que eu queira ter o nome, ou que pronunciem meu nome, igual ao de uma pessoa famosa.

O povo gosta de pôr nomes em filhos baseando-se em pessoas famosas e de sucesso, como jogadores de futebol, cantores, atores, e até mesmo personagens de filmes e de livros.

Eu já vi “Johnny” escrito “Jhonny”! “Juan” ecrito “Ruan” e “Rhuan”. “Michael” escrito “Maico” e outras coisas dignas de riso. Mas nenhum desses que citei, e outros que não citei, faz lembrar partes íntimas, né?

No fundo, no fundo, tenho raiva da pessoa do cartório, a que permitiu essa grande bobagem. Minha mãe, CERTAMENTE, disse “Ed”, mas a toupeira escreveu “Edi”.

Vai tomar no edí! rs